Clube do Jornalista

Metamorfose constante – o Zero não existe

COMO VOCÊ TEM ENCARADO AS TRANSFORMAÇÕES DA VIDA? ESSA SERÁ UMA CONVERSA LIVRE, SEM PENSAMENTOS CARTESIANOS, SOBRE APTIDÕES E COMO ADAPTÁ-LAS AS CONSTANTES E NATURAIS VONTADES DE MUDANÇA.

Por Thiago O Carvalho*

Nos últimos tempos, tenho refletido muito sobre as mudanças que nos propomos em fazer na vida. Mudar de casa, de trabalho, mudar ramos de negócio …  Na verdade, a minha vida é feita de constantes adaptações e transformações, isso virou um hábito. Não tenho receio de mudar, mas isso, também, não quer dizer que é preciso deixar tudo para trás e começar de novo do famoso Zero.

Sem dúvida mudar é um caminho, mas zerar tudo é realmente necessário? Tenho escutado com certa frequência sobre a necessidade de alguns amigos em alterar os rumos de suas vidas a partir do momento que surgem novas aptidões e oportunidades. E aí me pego a pensar: se eu tivesse que zerar sempre tudo a partir das novas experiências adquiridas, creio que nunca teria saído do lugar.

Quero voltar um pouquinho no tempo e falar a partir do que já vivi. Normalmente nós, que ainda habitamos este belo planeta, passamos por uma formação que nos impõe a escolha de um caminho profissional específico, que te acompanhe ao longo da vida e promova a tão sonhada estabilidade financeira.

Algumas gerações, incluindo a minha, vêm sendo moldadas ao longo da era mais tecnológica que a humanidade já viveu. Não nascemos num mundo totalmente digital, mas tivemos que aprender a entrar nesse universo e dominá-lo. Saímos de um pensamento em que o correto era estudar, arrumar um emprego e aposentar-se nele – aqui não estou nem pensando nas questões familiares -, para uma adaptação necessária às novas realidades do universo tecnológico (desde a revolução industrial vem sendo assim, é fato, mas nunca foi tão rápido!).

Ao mesmo tempo em que essa evolução em velocidade ultrassônica nos colocou a oportunidade de conhecer e dominar diferentes assuntos e tarefas, o conhecimento acelerado nos impôs o desenvolvimento de inúmeras especialidades. Por exemplo, se pensarmos na gastronomia, quem faz bem a culinária francesa deve saber, também, dar o ponto certo em um tutu de feijão. Uma imposição por diferentes habilidades que, também, nos gera oportunidades.

Embora eu tenha me formado em jornalismo, sempre tive a visão de que existiam muitas coisas que eu queria trabalhar e que, talvez, somente no jornalismo eu não conseguiria. Diferente do que muitos pensam, a faculdade me ensinou bastante, mas, acima de tudo, mostrou que eu tinha muito que trabalhar para alcançar o que eu, inconscientemente, queria. Nunca tive um pensamento juvenil de querer conquistar o mundo; meu universo era menos ilusório e mais prático, as minhas condições financeiras não permitiam viver de devaneios. Sonhar era permitido, mas era preciso encontrar caminhos para colocá-los em prática e mudar a minha realidade.

Para quem deseja mudar uma realidade que está posta, só existe um caminho: aproveitar todas as oportunidades de aprendizado, mesmo que, aparentemente, elas não sejam tão boas. Me recordo, com certa frequência, das noites – regadas à muito café – que passava fazendo transcrição de documentários e vídeos institucionais. Naquela época, o material era em fita VHS e eu utilizava um videocassete caseiro para assistir o conteúdo. Eram noite sofridas, mas ao mesmo tempo esses pequenos trabalhos me ajudavam a pagar a faculdade e ter uma vida normal de jovem. O que eu não sabia na época era quanto isso influenciaria minha vivência profissional anos depois. Se pensarmos em uma linha do tempo e se essa fase fosse removida, o que eu teria deixado de fazer mais adiante?! O quanto isso influenciou minha escolha de ser, também, documentarista? Esse é um tipo de oportunidade que aumenta sua bagagem de conhecimento. Ou melhor, a forma como encarar esses momentos é preponderante para mudar alguns percursos mais adiante.

Mas, voltando ao aprendizado, toda a fase que passei no jornalismo me fez ser mais questionador e olhar o mesmo fato por diferentes pontos de vista. Quando assumi uma gerência de jornalismo aos 24 anos, consegui entender muito mais o trabalho em equipe e a capacidade de gerir pessoas e projetos – embora fosse muito jovem e possa ter cometido diversos erros, ali me moldei e entendi o que poderia realizar de diferente.

Quando dei um basta em tudo e tirei um período sabático, aprendi como é possível aproveitar a vida (tive que me privar de muitas coisas quando era mais jovem), entender outras culturas, assumir posições contrárias da maioria, construir novas relações e encontrar sentidos para tudo o que eu poderia fazer. Foi ali que entendi que eu não precisava zerar nada para iniciar novos desafios; que cada novo momento eu traria experiências que se juntariam e multiplicariam à minha capacidade de desenvolver novas aptidões, mesmo que elas não fossem tão claras em determinados momentos.

Nesse período compreendi que no puzzle da vida o barato não é simplesmente finalizar a montagem, mas se divertir para encontrar caminhos possíveis. Nem sempre o final do jogo é positivo, mas como você saberia se não tentasse jogar? E como você vai estar para uma próxima partida, mesmo que o game seja diferente? Não tenho dúvida que tudo aquilo que você reuniu ao longo de sua jornada vai estar ali unido para que você possa jogar outra vez. Muita gente aprendeu a negociar jogando banco imobiliário, a não revelar segredos e a descobrir pistas jogando detetive e a unir tudo isso numa partida de imagem e ação.

Eu passo por situações engraçadas na minha vida profissional quando me pedem para dizer o que eu faço. O caminho mais fácil é sempre falar: “eu tenho uma agência de comunicação”. Normalmente confundem com publicidade, o que até entendo, porque o termo ficou muito associado às empresas que lidam com propaganda e marketing. Mas aí eu começo a explicar a partir de alguns serviços que oferecemos. Até aí tudo bem, as pessoas conseguem entender. Mas, quando deixo de falar da empresa e passo a falar sobre algumas das minhas aptidões, o jogo fica divertido. Sempre rola uma expressão de estranhamento, uma certa incompreensão.

É difícil para o senso comum entender que uma pessoa pode realizar funções de jornalista, empresário, empreendedor, gestor, documentarista, diretor de programas para TV, especialista em comunicação corporativa, produtor de eventos culturais, curador, produtor de conteúdo, desenvolvedor de projetos digitais, dono de startup, ex-dono de um laboratório farmacêutico (esse eu abri mão, mas é outra história para contar) e, agora, investidor em novas tecnologias. Já ouvi muitas vezes a famosa piada, sempre no tom pejorativo: “nossa, você parece um homem polvo!”. Isso explica a dificuldade de muitos entenderem que você é composto por diferentes compartimentos e que não há problema eles se alternarem ao longo da sua vida profissional.

É claro que no meu caso tudo gira em torno de um universo específico, não vou me meter a ser engenheiro – acredito que não tenho nenhuma habilidade e nem capacidade técnica para isso (mas, se você tiver, acho incrível!). Quando criei a EKO AG – isso já faz alguns anos – nosso foco principal era o segmento de assessoria de imprensa. Com o passar do tempo, muita coisa mudou e acabei trazendo para a empresa essa característica pessoal de ser “multi-tasks”, ou seja, estarmos sempre abertos a realizar o novo, conectados às novas demandas e à frente das novas tendências. Assumimos os desafios dos nossos clientes como sendo nossos e ultrapassamos limites do que é possível realizar.

Resumindo: o importante, a meu ver, é conseguir fazer com que tudo se converse. É preciso entender que somos formados por uma grande equipe interna e que ela nos dá o suporte para administrarmos todas as nossas relações externas. Em determinado momento, por exemplo, um aspecto pode aparecer como liderança e alternar-se com os demais conforme as coisas caminhem.

O mundo digital nos leva ao entendimento que não existem limites para nossas capacidades. Basta desenvolvermos. A imposição de fronteiras para o uso de suas aptidões é ilusória, normalmente imposta por quem não consegue enxergar além e que pretende te manter refém de uma situação. Por isso, pense muito bem antes de dizer que você não sabe. Em alguns momentos, a resposta só está em outro compartimento que você precisa acionar.

Para completarmos essa conversa: não existe Zero ao iniciar novos desafios profissionais e pessoais. Como é possível começar como se nunca tivesse vivido? Quando monto algum evento ou exposição, muitas vezes penso nas experiências adquiridas com o meu avô – ele me ensinou os macetes da marcenaria, pintura, de consertar coisas –, aí aparecem soluções simples para problemas que pareciam complexos demais.

Toda vez em que for iniciar novos projetos, lembre-se: o Zero não existe!

O que você tem é a oportunidade de colocar em prática seus conhecimentos em novos campos e de se propor a dar início a coisas novas. Esteja aberto e não tenha receio de passar por metamorfoses aceleradas ao longo do caminho. Para mim, o sentido está em vivenciar essas etapas, muito mais do que chegar ao final delas.

E para você, como tem sido encarar as transformações da vida?

*CEO da EKO AG – grupo especializado em inteligência de comunicação e entretenimento, criado em 2005. Desenvolve soluções estratégicas para auxiliar na divulgação de produtos e empresas tendo como foco: relacionamento com a mídia; criação de ações de Public Relations; produção de conteúdo; gestão de redes sociais; elaboração e realização de eventos; produção cultural; captação de patrocínio e planos de mídia. A agência também desenvolve soluções digitais para eventos virtuais. Desde 2015, a empresa trabalha na criação e produção de projetos culturais como: Exposição A Turma do Chaves, Rá-Tim-Bum – O Castelo, Niemeyer Sensorial, X de Xuxa, Da Vinci 500 anos – Digital, entre outros.

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